Dr. Norton Sayeg
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A alteração do comportamento e seus fatores principais
Os distúrbios comportamentais são um dos aspectos mais angustiantes no dia a dia: gritar, chorar, vagar pela casa, episódios de irritabilidade e agressividade, podem ser uma forma de comunicação do paciente.
Algumas alterações comportamentais são relativamente aceitáveis, pois não apresentam riscos e não necessitam de tratamento. Quando observamos um comportamento anormal, sem causa aparente, devemos avaliar e, por exclusão, tentar descobrir se por trás dessa manifestação não há uma comunicação oculta.
Basicamente há três fatores que afetam e alteram o comportamento do paciente: Fatores ligados ao meio ambiente, do comportamento pessoal do cuidador (familiar ou profissional) e relacionados às condições físicas e de bem estar.
Meio ambiente
A temperatura está adequada? Muito frio ou muito calor? Luz ofuscante ou ambiente escuro? Muito barulho, muitas visitas, isolamento, sensação de solidão? Sombras simulando vultos de pessoas ou animais, vento fazendo ruídos aterrorizantes? etc.
O cuidador deve observar e sentir o ambiente, colocando-se no lugar do paciente percebendo o local da mesma maneira que ele.
Dessa maneira, poderá tomar algumas providências altamente positivas para contornar determinados comportamentos indesejáveis.
Comportamento pessoal do cuidador
Pelo comportamento e tom de voz do cuidador, o paciente sabe se estão calmos ou não, e reagirá de várias formas.
O cuidador deve reavaliar e repensar o seu comportamento: Deve fazer um pequeno intervalo, respirar e, com calma, reavaliar se o seu humor, seus gestos, seu tom de voz e suas atitudes estão provocando as reações indesejáveis que o paciente está expressando, e tentar contornar.
Se o cuidador não sabe, não está certo se está agindo corretamente ou duvida que a sua forma de agir tem influência, ele deve, no mínimo, experimentar uma modificação no comportamento pessoal que vem sendo adotado: verá que os resultados serão surpreendentemente bons nesta estratégia terapêutica.
Condições físicas e de bem estar
Existem os fatores relacionados ao próprio paciente que normalmente estão ligados ao seu bem-estar físico:
Fome, sede, frio, calor, dor, presença de fezes ou urina nas roupas, cansaço, gases, prisão de ventre, coceiras e outras possibilidades, como querer sair da cama e mudar de posição, e mesmo a presença de alfinetes ou insetos devem ser pensados como uma possibilidade de desconforto.
Regra Geral
NÃO VALORIZE os distúrbios de comportamento. Aja naturalmente e NÃO INCENTIVE o paciente a continuar com o comportamento!
Mude de assunto, converse sobre coisas que a pessoa tem interesse, saia para andar, peça para ajudar em alguma tarefa manual ou doméstica, peça para ajudar a arrumar as fotografias nos álbuns, peça para escolher um CD de música para ouvir. Seja criativo. Muitas atividades podem não dar certo, mas com certeza achará outras que irão acalmar e tranquilizá-lo.
Como identificar as causas da mudança do comportamento
Pergunte de maneira simples e direta
Mesmo em estágio avançado e não conseguindo falar, muitas vezes o paciente consegue responder através de gestos e sinais positivos ou negativos à pergunta do cuidador. Por exemplo: – Você está com fome? – Tem cocô na fralda? – Eu estou falando muito alto?
Sinta o ambiente
EU estou sentido muito frio? …muito calor? Aqui está muito barulhento? Tem muita gente aqui?
Perceba a você mesmo
Hoje eu estou falando mais alto? Estou muito nervoso? Estou sem paciência?
O cuidador e seus sentimentos
“Dar orientação é fácil… Difícil é executar!”
O cuidador pode ficar irritado, nervoso com a situação, ficar deprimido. Muitas vezes deseja abandonar tudo e sumir dali. Muitos cuidadores pensam até em beliscar, bater, agredir verbalmente o paciente.
Algumas considerações:
- O cuidador não deve ter receio de manter a ordem e a disciplina no local.
- A palavra “não” e a expressão “não faça isso” devem ser utilizadas quando realmente necessárias e evitando usar corriqueiramente.
- É necessário e importante o período de descanso, a conversa com amigos, ouvir música, ter uma vida social separada daquela do dia a dia como cuidador. Isso é mais sensato, produtivo e gerará maior bem estar pessoal.
- Lembre-se que o trabalho do cuidador é de doação e amor. Muito nobre. E deve ser exercido por aqueles que possuem o dom.
- Se o cuidador errar e num momento de raiva for mais ríspido do que o necessário, deve se perdoar, se conscientizar e continuar sua missão.
Verifique as condições físicas
O paciente está com gases? Não vai no banheiro há quanto tempo? As roupas estão confortáveis? Tem alguma irritação na pele? Está muito tempo sentado? … Deitado?
Principais sinais de alerta
- Piora súbita do estado geral
- Sonolência
- Mudança brusca do comportamento habitual
- Febre
- Mudança de peso
- Alterações do apetite
- Extremidades arroxeadas (Cianose)
- Alterações do hábito intestinal
- Tosse produtiva (com formação de secreção nas vias respiratórias)
- Falta de ar
- Urina escura, malcheirosa
- Incontinência urinária
- Incontinência fecal
- Distúrbios súbitos do aparelho locomotor
Piora súbita e mudança brusca do comportamento
No desenvolvimento do Alzheimer, uma piora clínica SÚBITA ou uma alteração BRUSCA do comportamento não é normal. Deve-se investigar inicialmente se há algo que está gerando desconforto, p.ex., após a alteração ou mudança de marca do medicamento, prisão de ventre, assaduras, roupas que possam estar machucando, picadas de insetos e aranhas, urina e fezes com alteração de cor e cheiro que possa indicar uma infecção etc.
Sonolência e apatia
São sinais importantes que podem estar relacionados a várias causas como a desidratação, o diabetes mellitus, efeito colateral de medicamentos, processos infecciosos, arritmias etc. Devem ser identificados, corrigidos e tratados prontamente.
Febre
A febre é um sinal de fácil constatação e de extrema importância. Muitos pacientes não apresentam febre no início de processos infecciosos. É sempre conveniente que a temperatura seja aferida regularmente.
Palidez e suor intenso
São sinais que podem indicar ocorrência de baixa pressão arterial por diversos motivos: como por uso de diuréticos, insuficiência coronária aguda, infarto do miocárdio, embolia pulmonar etc. Também pode ocorrer por hipoglicemia, quando não se alimentam adequadamente ou quando fazem jejum para fazer exames clínicos.
Coriza e espirros
Associados normalmente aos resfriados comuns ou gripes.
Deglutição de ar e arrotos
São sinais que estão associados aos estados de ansiedade, gastrites, úlceras gástricas, esofágicas ou duodenais, disfunções da vesícula biliar, hérnia de hiato (por uma abertura do diafragma), angina de peito etc. Também pode ocorrer quando se come sem mastigação adequada, pelo consumo de refrigerantes, por efeito colateral na utilização de medicamentos para redução de tremores (efeitos anticolinérgicos), uso de antiácidos, problemas dentários e próteses mal ajustadas.
Alteração do apetite
O aumento do apetite pode estar relacionados aos hábitos prévios do indivíduo ou mesmo de doenças como diabetes, hipertireoidismo, parasitas no intestino etc.
A diminuição do apetite pode ocorrer por consequência de infecções das vias aéreas, problemas nos rins, no coração, no fígado, na tireoide, por intoxicação medicamentosa e até por estar “enjoada” do sabor ou da baixa variação no cardápio.
Extremidades arroxeadas (Cianose)
Sinal grave que exige rápida ação. Levar para avaliação médica, pois pode estar ocorrendo problemas cardíacos, infecções e doenças pulmonares, intoxicações, doenças vasculares crônicas etc.
Prisão de ventre (Constipação intestinal)
Pode ser por uma simples alteração no hábito alimentar, como por diversas doenças no intestino, pâncreas, tireoide etc. A manutenção de um registro diário dos hábitos intestinais é de extrema importância, pois permite a correta avaliação do ritmo intestinal.
Vômitos e diarreia
Podem ser sinais sem gravidade se não persistirem por mais de 24 horas. A primeira consequência é a desidratação.
Se apresentar vômitos e diarreia com inchaço do abdômen, deve-se levar imediatamente ao Pronto Atendimento para avaliação médica através de toque retal.
Sede
O aumento da sede pode ser por desenvolvimento de diabetes ou por desidratação.
Emagrecimento
Emagrecimento sem a perda de apetite pode ser correlacionado a doença da tireoide, diabetes, síndrome da má absorção ou por excesso de atividade física sem a ingestão de calorias necessárias, como ocorre com pacientes com a síndrome do andarilho, que vagueiam por longas horas.
Perda de sangue pelas narinas (Epistaxe)
Condição principalmente relacionada com hipertensão arterial. Deve ser consultado um médico o mais rápido possível. Pode também ocorrer se o indivíduo inserir algo nas narinas, por infecções ou gripes.
Recusa em andar ou ocorrência de quedas
Muitos pacientes andam e, de repente, sentam-se e param de andar. As quedas ou batidas não percebidas ou não comunicadas podem ocorrer. Entorses, pequenas trincas nos ossos das mãos e dos pés, fraturas no fêmur são comuns e aqueles pacientes com osteoporose devem ter maior atenção. Avalie se há inchaços, dores localizadas nos pés, pernas e braços. Saber data e horário quando foram percebidos são importantes.
Outros sinais
- Erupções avermelhadas na pele (exantemas)
- Mau hálito (halitose)
- Urina escura e malcheirosa
- Sangramento na boca, no ânus e nos genitais
- Corrimentos vaginais
- Olhos amarelados
- Fezes claras ou muito escuras
- Perda involuntária de urina e fezes
- Inchaço na face e nas pernas
- Tosse seca e tosse com escarros
- Escarro amarelado
- Chiados no peito
- Coceiras
- Alterações na pele
- Retenção de urina
- Desmaios
- Soluços prolongados
- Calafrios
- Tremores e convulsões
Reforçamos que todos os sintomas que devem ser investigadas pelos médicos.
Sintomas que ocorrem com maior frequência
Inchaços nos tornozelos (Edemas)
Podem ocorrer por problemas como insuficiência cardíaca, doenças renais, pulmonares, hepáticas e vasculares. Também pode ser postural, como o paciente ficar muito tempo sentado. Geralmente são discretos e assimétricos.
Tosse
As causas principais são: tabagismo, bronquites, asma, pneumonias, refluxo gastroesofágico, câncer de pulmão, metástases e efeito adverso de anti-hipertensivos, como o enalapril e captopril.
Dores no peito
Se for de origem cardíaca, são acompanhadas por outros sintomas como tonturas, palpitações, palidez, dificuldade de respiração e sudorese. O encaminhamento ao médico será urgente.
Dores nas pernas
Varizes, insuficiência circulatória, neuropatia diabética, dor ciática e infecção urinária são as principais causas.
Dores abdominais
Se as dores forem acompanhadas por febre e sangramento, deve ser urgentemente levado ao Pronto Atendimento.
Dores no dedão do pé
Sintoma comum de gota.
Problemas médicos mais frequentes
Pneumonia
A pneumonia é uma doença que geralmente causa a morte do paciente. Vários fatores contribuem e facilitam a ocorrência dessa terrível complicação. Especialmente naqueles mais idosos, não costuma se apresentar de modo clássico, com febre alta, tosse produtiva, catarro amarelado (purulento), dores nas costas e prostração. Pode ocorrer de maneira absolutamente silenciosa, e, às vezes, apenas uma alteração no padrão de comportamento nos leva a cogitar essa possibilidade.
Medidas de prevenção contra a pneumonia
- Estimular a tosse.
- Hidratar convenientemente. Mantenha o controle do volume ingerido de líquidos.
- Na hora do banho, o vapor d’água dá fluidez às secreções, facilitando a eliminação.
- Quando da alimentação e ingestão de líquidos, o paciente deve estar sempre sentado ou semi sentado.
- Dietas balanceadas, semi sólidas ou pastosas e utilização de suplementos nutricionais. Devem ser prescritas por médicos ou nutricionistas.
Escaras
As úlceras por pressão (escaras de decúbito) são lesões que ocorrem na pele, especialmente no final das costas ( região sacra), nas laterais do abdômen (flanco), nos calcanhares e no lado externo do tornozelo.
As escaras são decorrentes da pressão prolongada na regiões em questão contra o colchão, o assento da cadeira, travesseiros etc. As escaras são, com algum grau de razão, o espelho dos cuidados dados ao paciente.
Medidas de prevenção contra as escaras
- Mantenha os pacientes ativos, livres de infecções, em bom estado nutricional e bem hidratados.
- Faça uma avaliação minuciosa da pele do paciente, após o banho ou da hidratação, principalmente nas áreas críticas.
- Utilize artefatos como almofadas de ar ou gel, colchões tipo “casaca de ovo” etc.
- Quando deitados, promova a cada duas horas a mudança de decúbito (posições laterais e ventral) do paciente e observe o uso de almofadas e travesseiros para as costas, entre os joelhos e nos pés.
Incontinência urinária e fecal
A falta de controle em urinar ou defecar impacta diretamente na qualidade de vida do paciente. As incontinências urinária e fecal favorecem várias complicações como assaduras, úlceras por pressão, infecção do trato urinário (principalmente para mulheres) etc. A incontinência tanto pode ocorrer por problemas neuromusculares como por dificuldades físicas e ambientais.
Práticas e sugestões para conviver com a incontinência
- Tenha atenção aos sinais de comunicação do paciente, como agitação, levantar-se e sentar-se várias vezes, esfregar as pernas, andar rapidamente, bater com as mãos nas coxas ou nos braços da poltrona, coçar a região genital ou mesmo abaixar as calças ou levantar o vestido.
- Utilize roupas de fácil manuseio, sem botões, com preferencia ao uso de velcro ou elásticos.
- Proteja os colchões, sofás e poltronas contra a urina e as fezes. Isso evitará contaminações, redução da vida útil e odor desagradável e permanente no ambiente.
- Mantenha o caminho de acesso ao banheiro e dentro do banheiro livres de obstáculos.
- Deixe uma cadeira de banho com balde próximo da cama para uso no período da noite, caso não haja tempo para chegar até o banheiro.
- No período noturno, leve para urinar pelo menos uma ou duas vezes na madrugada, para não acumular muita urina, evitando assim que o paciente acorde todo molhado. Se é acamado, faça a vistoria, a troca de fraldas e a higienização uma ou duas vezes na madrugada. Isso reduzirá a necessidade de higienização e trocas de roupas de cama, roupas de dormir e o tempo necessário que o paciente possa retornar à cama.
Este artigo não substitui em nenhuma hipótese a ORIENTAÇÃO MÉDICA.
Adaptação da publicação original em “alzheimermed.com.br”.
Revisão e adaptações por ANYA Cuidadores de Idosos.