Publicado em 20 de Jan de 2014 em Viva Saúde edição 128, por Letícia Maciel.
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Introdução
Estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a proporção de pessoas com mais de 60 anos no país pode quadruplicar até 2060, passando das 14,9 milhões registradas em 2013 para 58,4 milhões. Embora isso seja um sinal de que o brasileiro está vivendo mais, sabe-se que a incidência de quadros degenerativos (como o Alzheimer) está aumentando, assim como o número de casos de doenças crônicas associadas ao estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, bem como pela má alimentação.
Esse cenário mostra-se favorável aos profissionais especializados em dar assistência doméstica a essa faixa etária. São os cuidadores de idosos (ou caregivers, como são conhecidos no exterior). “Dizem que essa é a profissão do futuro. Na verdade, penso que ela é do presente, pois a demanda já é muito alta”, afirma Jorge Roberto Afonso de Souza Silva, presidente de Associação de Cuidadores de Idosos de Minas Gerais (ACI-MG). Marília Sanches, terapeuta ocupacional e especialista em gerontologia da Associação de Cuidadores de Idosos da Região Metropolita na de São Paulo (Acirmesp), comenta que o grupo que mais cresce é o dos indivíduos com 80 anos ou mais.
“São os idosos frágeis e, portanto, mais propensos a passar por doenças, quedas e, assim, hospitalizações. Neste contexto, soma-se ainda a diminuição dos núcleos familiares e o engajamento da mulher no mercado de trabalho. Tudo isso faz com que o ofício em questão seja necessário para muitas famílias”, acrescenta.
Pré-requisitos
É por esse motivo que se recomenda a contratação de técnicos com pelo menos um curso voltado ao atendimento da Terceira Idade no currículo. Esse tipo de formação normalmente aborda os múltiplos aspectos do envelhecimento: o corpo docente é formado por enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, entre outros especialistas da área da saúde.
Aulas práticas completam a grade curricular, tornando os alunos mais aptos a atenderem o paciente complexo que é o idoso. Outras características desejáveis nesse profissional são: pontualidade, responsabilidade com as tarefas rotineiras, paciência, comprometimento (não faltar por motivos banais), bom preparo físico e criatividade, principalmente se a pessoa assistida sofre de demência. “Ele deve ser criativo para desenvolver atividades que promovam descontração e melhoria das capacidades cognitivas e funcionais.
É importante também respeitar a história de vida dos mais velhos, lembrando que eles não são crianças e, assim, não devem ser tratados como tal”, acrescenta Ana Cristina Fironi, professora do curso Cuidador de Idoso, do Senac Marília (SP). A terapeuta Marília ressalta que o ato de cuidar envolve amor. “O cuidado é pautado em relações de ajuda, lembrando que todos nós já necessitamos ou podemos vir a necessitar de cuidados de terceiros”.
Logo, é importante observar se o cuidador é solidário, compreensivo para respeitar o espaço alheio, paciente para não responder a ataques verbais, e se realmente gosta daquilo que faz.
Quando é a hora de contratar?
É comum ouvir famílias dizendo que jamais pagariam alguém de fora para auxiliar um parente que necessite de cuidados — seja em casa ou em um hospital. Muitas delas consideram o ato impessoal, insensível demais.
Outras temem que o profissional maltrate o idoso ou aja com negligência. Porém, imagine um núcleo familiar formado por um casal e duas crianças. Este se mantém graças ao salário dos adultos, que passam o dia inteiro trabalhando, longe de casa.
Um dia, seus integrantes são surpreendidos com a notícia de que um tio próximo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou com sequelas. Como abrir mão do emprego para prestar auxílio constante ao paciente? E mesmo se pudessem, estariam essas pessoas preparadas?
Tarefas compartilhadas
E nos casos em que a família é numerosa? “Em geral, quem acaba assumindo tudo é a mulher solteira, sem filhos e que não trabalha”, conta Jorge. “Porém, ela tem o seu limite. Se não dividir as tarefas, ela corre o risco de esgotar-se. Pode até tornar-se ríspida ou errar na hora dos medicamentos”, diz.
Em ambos os casos, admitir um cuidador pode ser a solução. A psicóloga Margherita de Cassia Mizan, da Acirmesp, explica que esse profissional deve entrar em ação quando o indivíduo tem dificuldade de gerenciar autocuidado e higiene pessoal. “Além disso, pode fazer companhia para o idoso que se sente isolado, fornecendo suporte afetivo e emocional”, finaliza.
Como selecionamos os cuidadores