Carolina Serpejante
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Introdução
Atividades facilitam a realização de movimentos e diminuem a tremedeira.
Movimentos mais lentos, tremedeira, dificuldades para caminhar, se alimentar e se vestir. Tudo isso é resultado da Doença de Parkinson, uma disfunção na área do cérebro responsável pelos movimentos, principalmente os chamados automáticos, que são aqueles que fazemos sem pensar – como respirar, andar ou levantar de uma cadeira. A fisioterapeuta, especializada em reabilitação neurológica Mariana Vulcano Siqueira, da Associação Brasil Parkinson, explica que essas tarefas são as mais difíceis para o portador da doença. “Entretanto, com a realização de alguns exercícios e atividades simples é possível melhorar o convívio do paciente com a doena”, diz.
No Dia Mundial do Parkinson (11 de Abril), uma série de especialistas indicam hábitos que podem ajudar o paciente a executar tarefas diárias com mais independência e até mesmo prevenir outras complicações da doença. Vale ressaltar que as recomendações são mais eficientes se forem seguidas quando o diagnóstico ainda é recente.
Exercícios diários
Para que o paciente com Parkinson possa executar movimentos automáticos, é necessária a prática de diversos exercícios diários. O objetivo desse treino é fazer com que o movimento passe a ser feito de maneira consciente, e não mais automática. A fisioterapeuta da Associação Brasil Parkinson explica que o portador da doença deve passar a fracionar os movimentos, prestando atenção em cada gesto. “Para ele não é mais simplesmente andar, é levantar uma perna, colocá-la para frente, depois levantar a outra perna e assim por diante”, diz.
Mariana explica que podem ser usadas pequenas pistas tanto visuais quanto auditivas na hora de executar uma tarefa. “É possível riscar várias linhas no chão, de forma que o paciente pule cada uma delas quando for andar, assim como podemos fazer uma contagem para cada movimento”, diz. Ela afirma que essas pistas são uma forma de substituir a função automática por uma função consciente. “Pular a faixinha ou contar o passo faz com que o paciente se conscientize da tarefa, executando-a com mais rapidez e facilidade.”
Tai Chi Chuan
Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa de Oregon (EUA), feito com 195 pessoas, mostrou que os movimentos do tai chi chuan podem ajudar a reverter alguns dos sintomas físicos da doença de Parkinson. A prática do exercício duas vezes por semana durante 60 minutos ajudou os pacientes a manter o equilíbrio e fazer movimentos com mais precisão.
O fisioterapeuta Frederico Brant, da Academia Rio Sport Center, afirma que o tai chi chuan promove mobilidade, equilíbrio e estabilidade aos portadores de Parkinson. Esse conjunto de habilidades acaba gerando mais autonomia para execução das atividades diárias e diminuindo o risco de quedas. “O tai chi tem exercícios que envolvem grandes amplitudes de movimento e estabilidade postural, servindo como ferramenta de combate aos sintomas da doença”, diz Frederico.
Musculação
Um estudo realizado pela Universidade de Illinois, na cidade de Chicago, afirma que fazer musculação durante uma hora, duas vezes por semana, pode melhorar a coordenação motora de pessoas com Parkinson. De acordo com o personal trainer Juliano Farah, as consequências geradas pela doença incluem perda e redução da força muscular, além da rigidez dos músculos. “A musculação consegue reverter esses problemas e melhorar a estabilidade da caminhada. A postura também ganha alinhamento”, afirma.
Para Juliano, a frequência e intensidade do exercício dependem do grau da doença e o trabalho físico de pacientes com Parkinson deve ser realizado em parceria com o neurologista que acompanha o caso. “Se o programa incluir exercícios com aparelho, o ideal é buscar aqueles com mais conforto e apoio para o corpo, como bicicletas ergométricas máquinas de musculação, em vez de pesos livres.”
Origami
Em fases mais avançadas da doença, o paciente pode ter dificuldades em desenvolver a motricidade fina, que são os movimentos precisos, como abotoar uma camisa, escrever ou pegar coisas usando apenas dois dedos. De acordo com a fisioterapeuta Mariana, a prática do origami estimula a motricidade e dá mais precisão aos movimentos, tornando essas atividades mais fáceis. “Também podem ser feitos outros exercícios específicos para a motricidade fina, como apertar um pregador ou envolver as mãos em um elástico e fazer movimentos de abrir e fechar”, afirma.
Trabalhar a fala
O paciente com Parkinson pode apresentar dificuldade para engolir e alterações na fala, como a gagueira. A fonoaudióloga Arminda Sarpa, coordenadora do setor de Fonoaudiologia da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, explica que podem ser feitos exercícios para coordenar a respiração e a fala do paciente a fim de que ele supere essas dificuldades. Aulas de canto e leitura em voz alta, com a orientação de um fonoaudiólogo, também são úteis para superar dificuldades orais.
Ginástica facial
Outro fenômeno comum da doença de Parkinson é a perda de expressão facial, resultado da rigidez muscular. De acordo com Arminda Sarpa Nesses, exercícios como os da ginástica facial podem ajudar o paciente na recuperação dos movimentos das sobrancelhas ou boca.
Exercitar a mente
O paciente com Parkinson pode apresentar problemas de memória e raciocínio. Segundo o neurologista André Lima, da Academia Brasileira de Neurologia, existe até um distúrbio chamado demência parkinsoniana, que é resultado de uma mente com Parkinson pouco estimulada. “Por isso é importante trabalhar a mente do paciente com Parkinson com jogos, aulas de música e leitura, por exemplo”, diz André. Nesses casos, a atividades podem ser diárias e de acordo com a preferência ou aptidão do paciente.
Em decorrência das limitações físicas que se desenvolvem progressivamente, o portador de Parkinson pode sofrer um abalo psicológico e até apresentar um quadro de depressão. “Para evitar a apatia no paciente, é recomendado que ele continue a fazer todas as atividades de antes, mesmo demorando um pouco mais de tempo”, afirma o neuropsicólogo, especialista em idosos, Alexandre Monteiro, do Rio de Janeiro. “Manter a autoestima também é um fator positivo para evitar ou combater a depressão, e é importante que ninguém force o paciente a fazer atividades que não o agradem ou exigir velocidade na execução das tarefas”, diz.
Atividades manuais como pintura, cerâmica e artesanato podem ser benéficas e minimizar o desgaste emocional. “Isso porque a área cerebral responsável pela concentração para realizar estas tarefas é a mesma área que provoca os tremores, se esses neurônios são desafiados, o sintoma que caracteriza o Parkinson pode diminuir”, afirma Alexandre. Além disso, conversar com familiares, amigos ou mesmo um grupo terapêutico podem ajudar pacientes que têm vergonha de sua condição. “Grupos de apoio e palavras de carinho podem não alterar a progressão de perdas funcionais, evitam o desenvolvimento de doenças oportunistas, como a depressão.”
Este artigo não substitui em nenhuma hipótese a ORIENTAÇÃO ESPECIALIZADA.
Publicado originalmente no portal “minhavida.com.br” em 04/04/2012.